Teatro Positivo.
Dia 27, sábado, 21 horas.
Ingressos R$ 80 a 180,
de acordo com o setor do teatro.
Informações 41 3315-0000.
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No dia em que o show Zii e Zie estreou no Rio, o amigo Elísio Brandão me ligou emocionado. Ele, sujeito que entende de tudo e mais um pouco, disse ter sido um dos eventos mais bonitos que presenciou em toda sua vida. Elísio é mais do que fã do Caetano tem anos. Suas vidas se cruzaram algumas vezes, e Elísio traz na memória esse carinho.
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Aposto que o que assistiremos amanhã será um inestimável espetáculo. Ver (em outras oportunidades conferi) Caetano Veloso no palco é um contágio edificante do qual, para o bem, não nos livramos mais.
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Caetano é um músico que compõe seus textos e cenas, sempre os envolvendo por sonoridades inusitadas, mergulhadas em conceitos e visões de mundo que são o filtro de uma intuição guerreira e irriquieta.
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Em bons artistas vemos construção e verdade, a verdade do labor, o cuidado na minúcia. Vemos as camadas do processo, sua densidade. No caso de apresentações ao vivo, o percurso sintetizado na ação da hora, que nunca mais será repetida. E Caetano traz tais qualidades quando vai ao palco.
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Especialmente nesse show que nasceu de um projeto chamado Obra em progresso, uma série de apresentações semanais, quando a cada noite expunha ao público canções inéditas, saídas como que de um forno matemático. As apresentações eram filmadas e imediatamente iam parar no youtube e no blog do autor, que além de trazer textos a respeito dos mais variados assuntos, continha vídeos com ele comentando cada uma das músicas novas. O disco Zii e Zie foi gravado então somente depois dessas experiências.
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Partindo daí, Caetano mais uma vez mostrou ser um artista atento ao seu tempo, pois o procedimento utilizado por ele praticamente inverte padrões esquemáticos da indústria da música. A raiz disso está em mais de um lugar, um deles, claro, é a crise que o mercado fonográfico enfrenta atualmente. Outra, e principal, é a capacidade do artista de adaptação, de se infiltrar em estruturas novas, para as quais ele poderia se dar o luxo da alienação. Mas não, pois Caetano é o cara que no âmbito pessoal, íntima e afetivamente, “teve coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas elas.”
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À Gazeta do Povo, quarta-feira, 24 de junho, que numa das perguntas abordou o assunto da rejeição que eventualmente sofre, o artista falou: “Ninguém pode pretender ser aprovado por todo mundo. E no meu caso, há agravantes fortes: tenho temperamento experimental, não sigo cartilha política de grupo nenhum, não me submeto à hierarquia crítica capacha que olha para tudo o que se produz na Inglaterra e EUA com adoração idiota. Tenho ambições maiores do que tudo isso. E também não sou um talento musical impressionante. Natural que reajam contra mim pelas piores mas também pelas melhores razões.”
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Não se engane, cabelos brancos não apareceram de repente. Caetano não é um velhinho tentando fazer rock´n roll. Pelo contrário, assim como em bons projetos do passado que às vezes são reformados e reabertos, por não se esgotarem de propor o futuro, novamente (como faz a cada disco de inéditas), nesse Zii e Zie, Caetano Veloso reinaugura um patrimônio nacional chamado Canção Popular.
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Reproduzo letra da composição de sua autoria que mais gosto (e fico feliz em dividir tal sentimento com meus irmãozinhos Vitor Paiva e Troy Rossilho) entre todas as que conheço.
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José
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Aposto que o que assistiremos amanhã será um inestimável espetáculo. Ver (em outras oportunidades conferi) Caetano Veloso no palco é um contágio edificante do qual, para o bem, não nos livramos mais.
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Caetano é um músico que compõe seus textos e cenas, sempre os envolvendo por sonoridades inusitadas, mergulhadas em conceitos e visões de mundo que são o filtro de uma intuição guerreira e irriquieta.
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Em bons artistas vemos construção e verdade, a verdade do labor, o cuidado na minúcia. Vemos as camadas do processo, sua densidade. No caso de apresentações ao vivo, o percurso sintetizado na ação da hora, que nunca mais será repetida. E Caetano traz tais qualidades quando vai ao palco.
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Especialmente nesse show que nasceu de um projeto chamado Obra em progresso, uma série de apresentações semanais, quando a cada noite expunha ao público canções inéditas, saídas como que de um forno matemático. As apresentações eram filmadas e imediatamente iam parar no youtube e no blog do autor, que além de trazer textos a respeito dos mais variados assuntos, continha vídeos com ele comentando cada uma das músicas novas. O disco Zii e Zie foi gravado então somente depois dessas experiências.
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Partindo daí, Caetano mais uma vez mostrou ser um artista atento ao seu tempo, pois o procedimento utilizado por ele praticamente inverte padrões esquemáticos da indústria da música. A raiz disso está em mais de um lugar, um deles, claro, é a crise que o mercado fonográfico enfrenta atualmente. Outra, e principal, é a capacidade do artista de adaptação, de se infiltrar em estruturas novas, para as quais ele poderia se dar o luxo da alienação. Mas não, pois Caetano é o cara que no âmbito pessoal, íntima e afetivamente, “teve coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas elas.”
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À Gazeta do Povo, quarta-feira, 24 de junho, que numa das perguntas abordou o assunto da rejeição que eventualmente sofre, o artista falou: “Ninguém pode pretender ser aprovado por todo mundo. E no meu caso, há agravantes fortes: tenho temperamento experimental, não sigo cartilha política de grupo nenhum, não me submeto à hierarquia crítica capacha que olha para tudo o que se produz na Inglaterra e EUA com adoração idiota. Tenho ambições maiores do que tudo isso. E também não sou um talento musical impressionante. Natural que reajam contra mim pelas piores mas também pelas melhores razões.”
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Não se engane, cabelos brancos não apareceram de repente. Caetano não é um velhinho tentando fazer rock´n roll. Pelo contrário, assim como em bons projetos do passado que às vezes são reformados e reabertos, por não se esgotarem de propor o futuro, novamente (como faz a cada disco de inéditas), nesse Zii e Zie, Caetano Veloso reinaugura um patrimônio nacional chamado Canção Popular.
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Reproduzo letra da composição de sua autoria que mais gosto (e fico feliz em dividir tal sentimento com meus irmãozinhos Vitor Paiva e Troy Rossilho) entre todas as que conheço.
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José
(Caetano Veloso)
.Estou no fundo do poço
Meu grito
Lixa o céu seco
O tempo espicha mas ouço
O eco
Qual será o Egito que responde
E se esconde no futuro?
O poço é escuro
Mas o Egito resplandece
No meu umbigo
E o sinal que vejo é esse
De um fado certo
Enquanto espero
Só comigo e mal comigo
No umbigo do deserto
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