quarta-feira, 24 de junho de 2009

balbucios de blues

...................................para Cecília Lang
este é o plano A
agora pra mim é como é: punk
ela não tem o menor suíngue
a mancha duma pessoa emoldurada pela claridade
sua sombra dança quando ela desce a rua
desde lá do Alto do São Francisco até aqui
no Café Metrópolis
porque larga sempre o serviço
por volta de três da tarde e
tem um casaquinho de gola v amarrado na cintura
e ela vem assim
a mania que ela tem de usar camiseta Hering
os peitinhos vulneráveis
ruiva, agora ela é ruiva
agora eu saio ileso
eu saio ileso de dentro de suas pálpebras
que se fecham por milésimos de segundos
guardando minha imagem
agora ela gosta de usar meias coloridas
e sou um dos poucos privilegiados a quem
ela revelou esse segredo
agora na verdade eu não sei
não dá pra saber
mas tô com muita vontade de
espremer o coração assim
até o coração sair em forma de fumaça por
algum cano de escape
agora sempre quero que
uma cena bonita como essa
vá parar no cinema
ela ali, a cidade vazia, prédios enormes
de repente uma rapaziada passa e
mexe com ela
venta
e eu me aproximo com meu andar
Rock Balboa depois de ter levado uma
surra no ringue
então faço a pergunta certa
agora é domingo, já anoiteceu, etc
agora vivenciamos acontecimentos estranhos
eu sei que pra ela o mundo cheira a veneno
e tudo que eu também quero é
dividir um pouco de vinho
agora isso aqui é uma foto dela
num plano lá atrás
as veias do pescoço saltando gargalhadas fora
ela me conta aquele episódio que
comprova porque ela é a guria mais solitária do bairro
e eu acho isso legal
sei que é triste
mas acho legal
e só mesmo a gargalhada dela é
o grande antídoto pra essa coisa no mundo de
maxilares travados de indiferença
e deduzo que ela deve ter estudado balé clássico
pela modo como pára ao lado de
uma árvore no Passeio Público
e ela gargalha, sim
o fogo sendo comido dente a dente
agora são zumbidos de abelhas
e nem mesmo a chuva que cai com
força é capaz de borrar o desenho dela que
tenho comigo aqui na mente
a vizinhança quer assistir a
novela das oito em paz
mas a visão que tenho comigo é a dela
gargalhando como fosse parir punhados de
flores da boca
um montão de pétalas de lovelovelovemetender
agora eu conto pra ela aquela estória de
quando pousei sobre uma bolha de sabão do
tamanho de um carro
e fiquei ali flutuando durante quatro horas seguidas.
agora eu vejo essa guria desembarcar na
rodoviária e acho que é ela
quero que seja ela com seus casacos embolorados
mas não, eu tô errado
porque na verdade ela tá partindo pra Paris e eu
tô pensando que sua primeira providencia em Curitiba
quando voltar de lá
deva ser comprar um cachecol.
isso mesmo, agora faz sete graus
e eu tô esperando ela vir
tomar sopa de tomate comigo
num restaurante chamado Akrótona
quer dizer, não é exatamente assim
a verdade é que é primavera e
estamos caminhando na direção do
Mercado Municipal, comprando
castanhas, mastigando
agora ela é invisível
não, não é
se fosse invisível não estaria aqui
eu não a estaria vendo
e ela está aqui, está
agora não estou mais vendo
agora é a vez do plano B

2 comentários:

  1. difícil parar de ler vc. mas, por hj, essa acabou comigo. amanhã eu volto. sem planos.

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  2. obrigado dascra. venha sempre. também adorei o seu blog, os poderes que vi por lá. beijo. lepre.

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