sexta-feira, 12 de junho de 2009

nero

A primeira vez que entrei debaixo de uma chuva com um guarda-chuva, eu já era bem grandinho, tinha perto dos meus 22 anos (tá bom, tá bom... já tinha andado com guarda-chuva, mas quando era criança, por causa da minha mãe, que sempre levava, mas a partir dos meus 11 anos, como todo adolescente que se preza, eu também era rebelde, e achava chapéu, cachimbo, pijama e guarda-chuva coisas de velho, e nunca mais carreguei um. Quando chovia me molhava, era minha “rebeldia encharcada”, ou então me escondia por debaixo das marquises, minha “rebeldia soturna”. Enfim me lembro que fiquei anos sem pegar num guarda-chuva). Um dia já cansado de me molhar, e atrasado para um compromisso que não podia chegar atrasado e muito menos molhado, me peguei comprando uma daquelas sombrinhas floridas (de mulherzinhas), que os homens ficam oferecendo por 5 reais na Rua XV. Saí em passo ligeiro, pois estava atrasado, e fui parando, e sorrindo, e sorrindo e... parando... parando... pa-ran-do... e o meu riso abriu mais, e eu parei. Comecei a rir, rir forte, nem vi as pessoas que, imagino, passavam me olhando, achando que eu era um louco. E eu gargalhei, senti uma coisa fria na boca do estômago, muito próximo de quando nos apaixonamos por algo, ou alguém. Fiquei encantado com o ato de estar embaixo da chuva e não me molhar. Era uma sensação, como se fosse um passe de mágica. Como se eu fosse o mágico. Não mágica de sininhos ou gente voando, era como mágico de circo do interior, mágica do homem de capa, cartola e coelho. Mágica “chinfrim”, que você sabe que é ruim mas funciona. Achei, naquele momento, aquela armação de varetas móveis coberta de pano que nos protege da chuva, a maior invenção de todos os tempos. Tinha me esquecido de como era estar embaixo da chuva sem se molhar.Lembrei disso porque hoje tá chovendo, e eu sei como é bom sair por aí correndo que nem moleque apaixonado se molhando de chuva. Mas sei também que mais cedo ou mais tarde todos precisamos de proteção, como o braço num abraço... ou um guarda-chuva na chuva.
Alexandre Nero
.*fiquei com saudade desse malandro.

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