quarta-feira, 7 de outubro de 2009

manual de putz sem pesares

Homens que explodem

Imagine um carro com o motor esfumaçado no meio da via rápida. Imagine os xingamentos e as bitucas dos cigarros do nervosismo do homem sendo jogadas na vala. E o suor debaixo de sua barba, no pescoço. Ele espera o guincho. Observe como o rosto dele é ingênuo. Reparou? É a cara de um homem que vai explodir. Perceba, ele não é exatamente uma granada. No sangue não corre pólvora. Ele não tem fios verde e vermelho que devem ser cortados por peritos do Grupo Tigre. Mesmo assim se pode afirmar: Ele vai explodir. Veja, uma flor não murcha por querer. Um ovo que cai da mão da cozinheira certamente explode. E um baiacu fora d´água? Uma garrafa de cerveja no congelador desregulado, claro, muitos já se cortaram em seus cacos. Do mesmo modo, um olho que presenciou decadência demais se rasga em cegueira. Por isso, o óbvio: O homem vai se estilhaçar. Comemorações explodem, e as crianças, que não entendem direito ainda que aquela é uma festa, as crianças choram enquanto os pais bém búm! Um bolha de sabão soprada pelos lábios rosados da menininha com sal ainda escorrendo na face também estronda o seu "nunca mais". Tantas, variadas cousas arrebentam. Mesmo assim sempre serão sujas as mãos de um homem que.
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*Acabo de encontrar, num caderno velho, pequena
série de anotações que organizei e transformei
(já apontavam o caminho) nesse texto. Algumas
frases, tenho quase certeza, foram sopradas
(ao menos inspiradas) por meu maninho Alexandre
França, nalguma de nossas madrugadas de embalos.

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