a literatura, embora não tenha me
trazido dinheiro ao bolso
deu-me durante a vida
algo que posso chamar de
angustiada felicidade
e calos na mão
na angustia só há perguntas
sem respostas
na felicidade perguntas não há
quem dirá o outro lado da
mesma moeda
então, quando um sofrimento de
difícil explicação surge
e com ele perturbações sem limites
resolvo deixar de escrever
pois escrever é o principal modo de
não se saber absolutamente nada
sobre a existência humana
esperar, esperar
pacientemente esperar, isso é
o que faz os sábios
escrever, que é a mais íntima e pessoal pesquisa
escrever nada responde
nisso vai o paradoxo
por mais que escave e
vasculhe o que não compreendo
escrevendo, pelo menos comigo é
assim, machuco bem mais o punho
(...)
não uso a literatura
como um confessionário
se em meus textos
abro algo da minha intimidade
é porque, é óbvio assim
não estou salvo
então faço uma pausa ao
escrever isso e
coloco as mãos no rosto
lambo a pele grossa da
palma e
de certo modo
é uma ferida o que lambo
imolo a pele que descreve
aquilo que já não sou mais
e escrevo
porque estamos
acostumados a chorar
pelos olhos, mas as
mãos também choram
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
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Diferente de outros. Franco, eu diria.
ResponderExcluiré isso mesmo, iza. bjs. lepre.
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