terça-feira, 20 de outubro de 2009

manual de putz sem pesares

Ok

Certo, vamos lá, não será preciso espelhos para eu ver que agora não sou mais alguém a quem devo pedir desculpas. Ou me culpar, seja lá do que for. Apenas quero seguir me surpreendendo, de algum modo. Vejamos, praticamente não tenho e-mails para enviar, telefonemas para atender. Tenho de ir ao banco para as contas de água, luz, gás, etc. Faço isso antes do almoço. Então, almoço pensando numa maneira, não de enriquecer, mas de me manter tranquilo. Certo. Tranquilo. Certo. Quem sou eu? Essa não sou capaz de responder. Tenho esse corpo que me presenteia com pequenas dores diárias. É verdade que já não posso estufar o peito e dizer: sou ator. Mas, veja bem, tenho aí uns papéis a interpretar. É evidente que também não sou escritor, já que nunca ganhei prêmio nenhum, nem grandes críticas, nem nada dessas coisas que definem os escritores. Mas ainda há uma boa dúzia de epopéias comezinhas sugerindo que eu as conte, ora bolas. De todo modo, continuo não tendo complexos teoremas para entender, xerox para rasgar, entulhos para colecionar, nem mistérios a esconder da polícia. Hum. No cd-player escuto música caipira ou blues que, afinal, são a mesma coisa, pois não. Lá fora, buzinas, buzinas e mais buzinas para que eu não esqueça onde estou. E onde estou? Ah, esquece. Posso lavar a louça agora, ou mais tarde. Ainda: Depois da meia-noite, alguma hemorragia (talvez, por que não?) para estancar. E, depois, me dedicar a compreender de que maneira amanhã me reinventarei. Ou nem isso. Apenas dentes a escovar. E olha que escovar os dentes é uma coisa que gosto de fazer. Minha escova não é das mais macias, mas já me acostumei com ela. Aposto que a mulher que vejo agora nessa tarde, por quem nutro certa ternura, com esses dois dentinhos suspensos e o resto da boca um vão, aposto mesmo que ela nem pensa mais em escovar os dentes. A banguela quererá me vender balas de goma? Não como, não como, não como. Eu sei que balas de goma dão cárie, por isso minhas moedas a senhorinha não terá, assim como não terei suas gomas. Certo? Certo. E o que mais? Vejamos, vejamos, vejamos. Eu sou pobre? Não. Também não sou rico. Sou classe média remediado. Assim fica bom. Sabe, acho que os da classe média são os que mais comem balas de goma. Né? Acho que os da classe média são os que mais gastam dinheiro comprando escova e pasta com flúor e cálcio. Possivelmente. Acho que essa é a classe da qual mais os filhos usam aparelhos dentários. Estamos rindo de quê, por quê, para quê, digo, quem? Acho que é a que mais tem todos os dentes no lugar. Ok. E eu tenho os dentes no lugar. Então, correto, sou mesmo classe média. Todos. Todos? Acho que construí mal a frase. Perdi o fluxo. Dei uma rasteira, hehe, no leitorzinho. Só queria dizer que tenho todos os dentes no lugar, só isso. Tá, é mentira. Falta um dente, o do siso, o inferior esquerdo para quem vê de dentro. Quem vê de dentro? Os outros (dentes) (do siso) não arranquei, porque esse inferior doeu demais. Fiquei traumatizado, embora a minha de hoje seja uma boa dentista. Fora os dentes, dentro da minha boca está também, óbvio, a língua. E a língua tem várias papilas gustativas, certo? Certo. Com os dentes, a língua e as papilas gustativas, posso comer um monte de coisas gostosas, pois não. Posso chupar balas se eu quiser. Mas evito balas, já se sabe. Assim como tenho evitado carne vermelha (isso ninguém ainda sabia). É. Abri mão da carne vermelha. É. Mas meus fantasmas vivem por aqui, eles me assaltam de vez em quando, eles que já se asfaltaram na minha tez poluída de trevas, eles que não precisam de carne vermelha, eles ainda não abriram mão da minha (digo, carne). O que que é que fantasmas querem com carne? Eles poderiam sobreviver muito bem só do sumo dos meus sentimentos, é ou não é? É. Mas o que vou fazer se eles são viciados nos meus, digo, sangue e suor.

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