põe a agulha com cuidado em minha veia
que é para não ficar roxo — são litros e litros
de soro e medo.
mesmo morto não vou ter conforto.
antes de ligar os aparelhos respiratórios
em minhas narinas
abre a janela, quero o cheiro das buzinas e
da lingüiça do Baixo Gávea.
há luas lá fora?
luas como nos finais de tarde de outono
nos filmes rodados em Nova Iorque.
se for para morrer definitivamente
quero que seja pela manhã
não suportaria que tudo acabasse naquela hora
em que os homens retornam a suas casas
mais tristes e menos sérios
com a gravata ainda esquecida no pescoço.
escuta, telefona para minha mãe
sê sutil com ela, fala que não quero nada
apenas que venha me apertar as mãos
e me beijar os olhos, eu também sou o Cazuza.
não se preocupa, meu pai com certeza
resolverá os problemas com a gerência do hospital
caso meu plano de saúde não cubra as despesas.
e se ele esmurrar algum enfermeiro, perdoa o velho
não terá sido por maldade — são litros e litros
de medo e soro.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
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amo
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