Ano de 2006, eu ainda morava no Rio de Janeiro. Pintou a possibilidade de negociar com uma editora de médio porte um livro. Meu amigo, o escritor e cineasta Abelardo de Carvalho, tinha uma agente literária. Por intermédio dele fui incluído em algumas conversas. A agente sugeriu que recolhêssemos material crítico e depoimentos, para fortalecer os trabalhos lá com a editora. Um pouco envergonhado, pedi a alguns amigos palavras que pudessem contribuir. Esse que ora publico é o depoimento do Paulo Sandrini. Ele, ao lado do poetaço Fernando Koproski, já havia me publicado pela Kafka Edições Baratas. Anos depois, teve a brilhante idéia da Coleção Antena, e me convocou para ser do time. Foi então que surgiu o Inverno dentro dos tímpanos.
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Vou dizer por que é que eu apostei (com a Kafka Edições) e continuo a apostar no Luiz Felipe Leprevost como escritor: porque o Leprevost desmistifica a literatura, traz ela pro corpo a corpo com o leitor. Tem ritmo, ginga, imaginação. O Luiz Felipe é daqueles que quando escreve poesia, não escreve só poesia, pois, quando o faz, já está subvertendo os gêneros e vertendo outra coisa que a gente não sabe bem o que é, mas sabe ter a inventividade e a força anímica de que tanto necessita o texto literário. Com Luiz Felipe o leitor tem humor, amor, vapores, ironia, cinismo e vários pontapés naquilo que é de bom tom — o Luiz Felipe tem o dom de nos constranger quando desnuda e ridiculariza as paixões e os hábitos mais mesquinhos, os nossos e os dele, autor. Nesse caso, o Luiz Felipe não tem medo de mostrar a zorba puída, como já dizia outro grande autor daqui, destas terras, Jamil Snege. O ridículo às vezes é um excelente ingrediente nas mãos desse Leprevost, ingrediente que jogado num mixer de referências que vão, às vezes implícita às vezes explicitamente, desde a alta literatura até a cultura de massa (hei, isso não é o lance pós-moderno, híbrido?), se torna cômico e ao mesmo tempo trágico. Em suma, gosto de falar do Luiz Felipe porque esse cara tem realmente talento, tem verve de escriba; e principalmente gosto de falar do Luiz Felipe porque o cara tem o dom de jogar pregos na poltrona do leitor. E isso não é pouco não, num tempo em que a escrita se tornou objeto de pura estética, em que os escritores necessitam ser maiores que suas próprias obras e se esquecem do seu interlocutor, nós leitores.
Paulo Sandrini
Ficcionista, editor da Kafka Edições
Ficcionista, editor da Kafka Edições
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