sábado, 30 de janeiro de 2010

na verdade não era

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.....Curso sobre colisões
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.....Mais ou menos assim a coisa, pense, U está no interior do ônibus. O ônibus se assemelha a caixas de sapatos. O ônibus está cheio. Lotado. Lotado não, o ônibus está cheio. O motorista parece um boneco de cera uniformizado. Um boneco de cera uniformizado é o que é o motorista. E o uniforme está encharcado. O motorista sua pra caralho. Não, ele mija nas calças. Ele sua e mija nas calças feito uma pessoa que fez exercício físico excessivamente e enquanto malhava bebia água mas foi proibido de ir ao banheiro. E, por isso, mija nas calças. E, para piorar, o motorista aperta sem parar a maldita buzina do ônibus. U também sua? Sua debaixo do pescoço. E nas palmas das mãos. Faz muito tempo, aliás, que as palmas das mãos de U não se batem uma contra a outra demonstrando entusiasmo efusivo. Em cada ponto em que o ônibus pára o motorista mijão grita Vamos, seus estúpidos, andem logo com isso, não tenho o dia todo! Isso mesmo, ele fala assim esse cretino mijão. Vamos, seus estúpidos, andem logo com isso, não tenho o dia todo! Exatamente. Acontece que entre uma e outra das paradas, de repente, assim de repente, do nada mesmo, U tira um feto de dentro da bolsa. E no momento em que U está tirando o feto de dentro da bolsa, umas senhorinhas muito das simpáticas entram no ônibus ralhando com o motorista mijão. Elas dizem que não são estúpidas e que elas, sim senhor mijão, elas tem todo o tempo do mundo. Porque para elas nessa vida só falta uma coisa para chegarem à eternidade. Que coisa? Deitar. Ok. E, olha, faz sol nessa manhã em que U vivencia sua epopéia. Mas o grupo de senhorinhas veste capas de plástico apropriadas para dias de chuva. As capas são roxas. E as senhorinhas também trazem guarda-chuvas. Roxos também, os guarda-chuvas. E elas também, as senhorinhas, roxas. E também as chuvas, roxas, caso estivesse chovendo. Há um homem ao lado de U no ônibus. O homem que está ao lado de U no ônibus constata que os olhos de U também são roxos. E nota que o feto que U tirou da bolsa, graças a Deus, vai saber, não é um feto humano, mas um bezerrinho, também roxo. E que U carrega além da bolsa algumas sacolas de supermercado. E que por isso foi confundido com um feto saído de dentro da bolsa aquele que na verdade era só um pedaço de carne roxa saída de uma das sacolinhas do supermercado. De modo que o homem sorri para U e U retribui o sorriso do homem encolhendo um pouquinho o ombro direito, que, inclusive, é uma ação bem costumeira de U. O homem após o sorriso de U pensa que aquele foi um delicioso sorriso franco de varanda o que ele ganhou. E as senhorinhas roxas de capas de chuva e chuvas roxas? As senhorinhas roxas de capas de chuva e chuvas roxas falam sem parar. E algumas até gargalham sem parar. Até mesmo o motorista mijão ri. Ri de nervoso. Mas ri. Ri de nervoso porque a buzina começou a tossir sem parar e alguém perguntou para ele assim Esta buzina por acaso está com tuberculose, hein, hein mijão? Então o motorista ri e pensa assado Vai que minha buzininha do coração está mesmo tuberculosa, aí o que será de mim? E a coisa toda vira uma grande piada. O ônibus inteiro gargalha. Só o feto... O que tem o feto? O feto... O feto é o único que não ri. Então rola um silêncio longo. Bem longo. Até que o ônibus sem buzina pára na frente de um prédio. Isso, o ônibus pára na frente de um prédio.

3 comentários:

  1. O ônibus pára na frente de um prédio.
    E U em casa cozinha o feto e come.
    De novo? Que nojo!

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  2. não é tão simples assim. nem tão assombroso. bj aí. lepre.

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  3. Ai que alívio de saber que não é tão simples assim e nem assombroso. Vou ler!

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