terça-feira, 19 de janeiro de 2010

só é ilusão aquilo que não esqueço, o resto foi real

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.....Quando chegou a época do vestibular, fui ser jornalista. Me formei e depois quis fazer especialização em São Paulo, onde trabalhei por volta de dois anos antes de voltar a Curitiba. Mesmo tendo morado em São Paulo não me transformei num urbanóide, embora hoje tudo seja concreto e plástico, ainda sei ler a lição da terra no apodrecimento de um fruto ignorado na fruteira. Sei quão lógica é a natureza que amolece o coração da terra para fazê-la condutora da fertilidade. As correntezas dos mares qualquer marinheiro conhece. As correntezas da terra são tão complexas quanto, mesmo contendo menos movimentos. Respeito a terra, sei se tratar de nossa cama mais macia. A terra é o oxigênio das flores. Vô Breno foi um insuperável marceneiro. Talvez eu não tenha servido para trabalhar com madeiras quanto servi para ser árvore. Ser árvore como meu avô. Isso Tatit jamais conseguiu ser.
.....Mas se você quer que eu seja franco, é melhor eu admitir logo, nunca fui bom em nada, senão que com algumas metáforas. Na época da escola minhas notas eram péssimas. Reprovei duas vezes de ano. Eu era rebelde. Brigava com os colegas, brigava na rua até alguém sangrar. Os Brennelli sempre tiveram esse andar de galo, de rei da rinha. Vi os mais velhos chegando no final da vida ainda com esse andar, mesmo que já não servisse pra mais nada.
.....Assim como eles, um dia fui eterno. Até que flertei com a memória de não ter havido. Até descobrir que desde protozoários até dinossauros, todos foram da minha família. Até o dia em que não soube mais quando foi que deixei de me permitir chorar entre os parentes.
.....Escrevo esse relato porque, sinceramente, não aprendi a dizer a verdade flagrada pelos olhos dos outros, fitando-os como me ensinou meu pai. Nem sempre os olhos são o melhor lugar para a verdade. Assim como sucede aos oceanos, a verdade independe da cor e profundidade da água. Desse modo, cri apenas em olhos que pediram afogamento. E nem sei como ainda não cansei de nadar como quem voa em céus com abismos. Talvez porque, imitando a coragem que tive quando criança, na época em que me esforcei nos esportes, em alguns até conquistando relativo destaque, colecionando meia-dúzia medalhas, acabei por exercitar o que é se iludir.
.....É verdade que floresci quase rude feito os pinheiros, porém não seco. Nunca fui capaz de ignorar carinhos e intimidades, daí que a mulher, graças a você, pra mim se tornou primordial. E por isso agora a evoco com devoção.

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