terça-feira, 12 de janeiro de 2010

só é ilusão aquilo que não esqueço, o resto foi real

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.....De repente me vem à memória o dia em que eu e meus primos nos vestimos com camisas com babado e gravata borboleta confeccionados por Dona Zilá. Para o casamento de quem mesmo? Sei que você veio em meu quarto, divina, com um vestido amarelo, com laço nas costas. Os cabelos exalavam o frescor do condicionador que você acabara de usar no banho. Causou-me uma impressão e tanto. Até que minha mãe lhe falou: O que é isso, Mana, vai de Botas Sete Léguas na festa?
.....Olhei para seus pés e lá estavam elas, azuis, rudes, contrastando com a delicadeza de seu vestido.
.....O meu sapato estava me matando, dona Gica, justificou-se você.
.....Imediatamente, eu que há horas vinha brigando com minha mãe por causa do par envernizado que mastigava meus pés, corri colocar também minhas galochas.
.....Quer saber?, desisto de você, Jassei, meio que gritou minha mãe, se você quer ir mal vestido, que vá, lavo as mãos.
.....Mas eu sou o gato de botas, mãe, disse eu num tom brincalhão, exibindo-me um pouco para você, que riu.
.....É que eu queria mostrar que éramos cúmplices daquele crime de etiqueta. Onde já se viu ir a um casamento calçando Sete Léguas? De todo modo, não nos importava muito se minha mãe já saia puta da vida em direção ao quarto dela praguejando: Melhor eu ir ver teu pai, do jeito que vocês são, é bem capaz dele querer ir de botas também, aí é que todo mundo vai mesmo ter motivo pra dizer “esses Brennelli são um bando de jacu”.
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(...)
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.....Na última vez em que nos falamos, eu estava deitado na grama, um pouco grogue de sono, por causa do cigarro de maconha que você tinha trazido. Minhas pálpebras eram janelas que abrissem na horizontal. Assim, do ângulo em que estava, vi algo como o vulto de sua mão suave entrando pela gola da camisa, avançando lenta sobre meu peito, acariciando meus pêlos. Fiquei alguns segundos recebendo seus carinhos, então desgrudei as pestanas e suspirei: Anjo.
.....Daí você se aproximou e me beijou a bochecha lisa, depois sussurrou em meu ouvido: Amo você, Jassei Brennelli.

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