domingo, 17 de janeiro de 2010

só é ilusão aquilo que não esqueço, o resto foi real

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.....O comprador em potencial não apareceu, esperei desde manhã até agora pouco. Morto de fome, fui até a panificadora do seu Chico, mas chegando lá aquela já não era a panificadora do seu Chico, nem mesmo a moça que me atendeu alguma vez ouvira falar em tal nome. A padoca de agora é bem maior, uma variedade enorme, o que a esposa de seu Chico fazia, que era colocar pães nos sacos, servir uma média, preparar um misto-quente, agora é feito por uma multidão de funcionárias, com uma variedade de queijos e pães e demais produtos que deixam qualquer um indeciso. Há um Café chique meio afrancesado dentro do lugar. Ali tomei um capuccino e comi um sanduíche gostoso e caro, na baguete.
.....Depois, voltei para chácara, e lá fiquei até a noite chegar, sentado à porta da cozinha toda aberta para aquilo que já foi uma horta recebendo atentados das galinhas. Como que diante de um filme cuja tela entra na gente, chorei sobre a poeira de um tempo feliz. Já passava das 20 horas quando enfim, deprimido, saí de lá e voltei para o centro.
.....E então me pus a escrever para você. E como eu acho mesmo que não vou chegar a ser um desses velhinhos simpáticos, com problema de audição, sobrancelhas desgrenhadas, vestindo calça de veludo e pulôver que cheiram a mofo e sopa, tentando curar uma tosse crônica com xarope de mel... agora... eu... É uma pena que eu não vá chegar lá. Tanto meu pai quanto vô Breno foram esse tipo de anciões. Mas o que você tem com isso? Ainda mais depois de tantos anos? Tua vida agora é outra, talvez você sequer volte a ter a chance de se recordar da família Brennelli, quem dirá da velha chácara que será vendida e possivelmente transformada em mais um condomínio de luxo, ou numa fábrica, ou ainda na porcaria de um shopping. Esse lugar que para nós, para mim pelo menos, foi uma espécie de paraíso assombrado, como são as infâncias.

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