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.....Apesar das orelhas, embora Tatit não mereça, é preciso fazer-lhe justiça. Antes me permita admitir que da marcenaria nada me ficou, a não ser uma lembrança do dia terrível em que Tatau sofreu o acidente. De vô Breno minha principal herança foi o gosto pelos livros e não a lida com as madeiras. Jamais consegui efetivar a síntese que ele me propôs.
.....Meu avô era um tipo de leitor que se aproximava dos livros como se aproximasse da lareira em noites de geada. Vô Breno era mais carinhoso do que um pulôver. Nunca o vi fazendo raridade de si mesmo, distribuía abraços, sorrisos, falas. Era o sujeito de uma época em que os artesãos ainda tinham razão de ser. Um marceneiro primoroso e o grande poeta do meu mundo.
.....Vô Breno era uma árvore, o homem forte, cada passo seu carregava raízes. Certa vez ele me disse assim: Para que não seja a vida essa incandescência vã, revelo sempre demências a minha mão, isso é que é escrever, isso é que é a marcenaria, dominar a loucura, o caos, condensá-la e saná-la dando-lhe a estética.
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.....Lembro que no meu aniversário de nove anos ganhei uma caixa de ferramentas. E aos poucos a fui equipando. Era um investimento à médio prazo. Tanto Tatit quanto Tatau também ganharam as suas e rapidamente aprenderam a diferenciar os tipos de madeira. Aprenderam como protegê-las para que não estragassem. Quais produtos usar e como usar. Qual a melhor tinta a ser utilizada para a preparação das madeiras, as técnicas para se fazer decapê.
.....Quando uma vez a tábua da cozinha onde eram amassados os pães quebrou, Tatit de um dia para o outro confeccionou uma nova, de qualidade superior a que havia estragado, que era obra de meu pai. Ali estava revelado o primeiro talento de Tatit. Diferentemente de Tatau, Tatit vivia se vangloriando por saber confeccionar banquinhos, criados-mudos, armários com perfeição. Não tardou até que fizesse a pátina melhor que vô Breno. Sabia usar como ninguém os berbequins. Aplicar os moldes para fazer perfurações. Era bom em laminação, compensados. Um talento nato.
.....Como é que você consegue, Tatit?, eu perguntava.
.....A madeira, apesar de sólida, Jassei, é de fácil manejo, é elástica, porque está viva, repetia os ensinamentos do vô Breno.
.....Como marceneiro a única coisa que consegui fabricar foi um violino cuja acústica nunca se viu pior, com uma curva no fundo completamente tosca. E ali morreram minhas ilusões em relação a uma possível carreira musical, pois não era só o violino que era ruim, o violinista tampouco servia.
.....Desacreditado da música ainda tentei mais um pouco investir na marcenaria, mas com a morte de Tatau minha incompetência e consequente desinteresse só fez crescer. Assim, o caminho ficou aberto para que Tatit logo virasse o braço direito e depois passasse a dirigir a fábrica de móveis Brenelli, o que, na verdade, foi acontecendo da maneira mais natural possível.
.....Meu avô era um tipo de leitor que se aproximava dos livros como se aproximasse da lareira em noites de geada. Vô Breno era mais carinhoso do que um pulôver. Nunca o vi fazendo raridade de si mesmo, distribuía abraços, sorrisos, falas. Era o sujeito de uma época em que os artesãos ainda tinham razão de ser. Um marceneiro primoroso e o grande poeta do meu mundo.
.....Vô Breno era uma árvore, o homem forte, cada passo seu carregava raízes. Certa vez ele me disse assim: Para que não seja a vida essa incandescência vã, revelo sempre demências a minha mão, isso é que é escrever, isso é que é a marcenaria, dominar a loucura, o caos, condensá-la e saná-la dando-lhe a estética.
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.....Lembro que no meu aniversário de nove anos ganhei uma caixa de ferramentas. E aos poucos a fui equipando. Era um investimento à médio prazo. Tanto Tatit quanto Tatau também ganharam as suas e rapidamente aprenderam a diferenciar os tipos de madeira. Aprenderam como protegê-las para que não estragassem. Quais produtos usar e como usar. Qual a melhor tinta a ser utilizada para a preparação das madeiras, as técnicas para se fazer decapê.
.....Quando uma vez a tábua da cozinha onde eram amassados os pães quebrou, Tatit de um dia para o outro confeccionou uma nova, de qualidade superior a que havia estragado, que era obra de meu pai. Ali estava revelado o primeiro talento de Tatit. Diferentemente de Tatau, Tatit vivia se vangloriando por saber confeccionar banquinhos, criados-mudos, armários com perfeição. Não tardou até que fizesse a pátina melhor que vô Breno. Sabia usar como ninguém os berbequins. Aplicar os moldes para fazer perfurações. Era bom em laminação, compensados. Um talento nato.
.....Como é que você consegue, Tatit?, eu perguntava.
.....A madeira, apesar de sólida, Jassei, é de fácil manejo, é elástica, porque está viva, repetia os ensinamentos do vô Breno.
.....Como marceneiro a única coisa que consegui fabricar foi um violino cuja acústica nunca se viu pior, com uma curva no fundo completamente tosca. E ali morreram minhas ilusões em relação a uma possível carreira musical, pois não era só o violino que era ruim, o violinista tampouco servia.
.....Desacreditado da música ainda tentei mais um pouco investir na marcenaria, mas com a morte de Tatau minha incompetência e consequente desinteresse só fez crescer. Assim, o caminho ficou aberto para que Tatit logo virasse o braço direito e depois passasse a dirigir a fábrica de móveis Brenelli, o que, na verdade, foi acontecendo da maneira mais natural possível.
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