segunda-feira, 20 de julho de 2009

especulações sobre o amor simples

A queda dos Anjos, de Bruegel
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para meus amigos,
eles sabem quem são.
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se você olha nos olhos de um homem e
vê as paisagens de dentro, pode estar certo
ali está o amor
se você cuida de uma criança mesmo
não sendo seu genitor, saiba
nisso há amor
no vizinho ao telefone com o
filho que está longe de casa
na meretriz recordando os
pais que já se foram
ou na vovó pensando em
como um dia desses foi alegre
em alguém que agora olha
fotografias e diz: ninguém ama sozinho
dê um telefonema pras tuas tias
ninguém ama estando só
não custa nada ser legal
o amor é tão bonzinho
mas também é o lobo malvado de um
conto em que o final é um
ensinamento edificante
alguém sugere: tente, escolha, plante
colha, cante o amor e ele
será uma fábula e tanto
não explique o que fez
descomplique o que virá
belisque-se para saber que
não está sonhando, pisque lentamente
as pálpebras são o que temos de
melhor para demonstrar gratidão
pratique o amor e ele será
um exercício para saúde
saúde o amor e ele trará uma
mesa cheia de amigos e bons vícios
talvez também alguma saudade
e mesmo assim o amor é
sempre um começo empilhado em
cima de outro começo que
por sua vez está sobre outro ainda
isso é irrefutável, tanto é
verdade que vem no
vagido de qualquer recém nascido
mas também é o amor corações
dilacerados por metáforas
sentimentalismo e tanta caraminhola
e por isso quem ama ao longo da
vida tenta em vão restabelecer vezes sem
paz a poda do cordão umbilical
quem ama sempre está
a colar penas umas as outras com
o intuito de produzir asas
mas vai que o paraíso é mundano e
quase sempre tão reles quanto
qualquer outra coisa
quem ama ama, isso é
uma possível verdade
quem ama ama quem ama, eis
mas mesmo quem ama nunca
conseguirá ser angelical

2 comentários:

  1. haha... quero estar inserida neste poema... aiaia! Feliz dia do amigo, meu querido!!!!

    B-Juju

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