domingo, 19 de julho de 2009

especulações sobre o amor simples

sei que seria muito belo tudo isso
caso fosse mais simples
quais os motivos então?
basicamente esses: das que me
presentearam com um ácido boquete
a dela parecia ser a boca mais faminta
ela escorregava seu corpo damasco
derretido sobre o meu
uma lâmina que conhecia meu umbigo
69, nariz, eu a penetrava também com
olhos e pálpebras, sal sobre a lesma
protetor solar em queimadura de terceiro grau
odores das axilas, fedores das virilhas
uma banho e eu a degustava, enólogo
especialista em líquidos e
fragrâncias combinados... isso...
mas não se domina uma mulher
assim como não se domina o mar ou
mesmo nuvens, não se dominam
lágrimas, secreções, infernos
há mesmo um par de motivações: beijar seu
ventre era o mesmo que não dar fim ao
que nos fazia morrer de esperança em
esperança acreditando que as flores eram
por onde o inferno respirava dentes e
músculos, menstruação e
o suco da saliva também formavam o
labirinto complexo daquele verão que
expunha a grande teta da fertilidade
e em nós só o que havia eram
sequências irresponsáveis de
ressurreições para gemidos futuros
em orgasmos lavados por
novas labaredas purificadoras
agora estou aqui clivado que nem uma fenda
e ela só se lança em meus braços como que
numa eventualidade premeditada
as suas intenções são sangue contra treva
travas contra asas, brasa contra sal
isso logo comigo, com ela
conosco, os dois que não somos mais só dois
desde de cedo eu sabia muito bem que
havia me transformado em seu estômago
em suas amígdalas, em seu cu
em suas sobrancelhas e ela em meu fígado
meus pulmões, meus tímpanos, minhas bolas
éramos e somos esses vários que
não esperavam jamais aquele resvalar de
dedos no momento em que pedimos
água de coco prosaicamente na
Casa Amarela do Barigui no dia em que
tudo começou e começamos a
foder um o outro desde as conversas
preliminares que são já um jeito de trepar com
quem se trepará e agora é isso, meus braços
transformados em tentáculos de polvo a
abraçar o ar poluído por sua presensa
a pele e a bocarra dela como as
de um crocodilo que ficará ao meu lado
quanto mais precisar ir embora, não
não são minhas mãos em pinças, patolas de
caranguejo que a impedem partir
mas nossa ternura feita de garras e não dedos
chicotes e não línguas, camisas de força e
não abraços, chave e fechadura
não pau e buceta

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