sexta-feira, 24 de julho de 2009

notas para um livro bonito

por horas fico ouvindo a
chuva negra despencar
e a terra a receber como que
uma overdose de águas
penso: que bom, estou longe do
centro e sua ferocidade de
asfalto que leva a cubículos
cheios de alergia e
constipação nessa tarde em que
a torrente de chumbo líquido
cai mais e mais incomodando o
trânsito, atravancando os
negócios dos homens ditos de
bem, seu mercado, sua bolsa de
valores, as visitas de nem tão
obscuros interesses do
senhor prefeito à periferia...
eles todos que se danem...
até que me chegam aos olhos
montes inteiros deslizando feito
mousse de chocolate
imagens trágicas como as do
verão passado em Santa Catarina
enchentes, pessoas desamparadas
então me vejo obrigado a
perguntar: onde está o paraíso
onde está o paraíso, onde está
o paraíso, afinal de contas?
onde não está o inferno, evidentemente...
e assim prossigo me deixando
lavar pela chuva escura e sua
líquida batucada que não respeita
convenções musicais
e se esse não é um mau hábito, ora bolas
então por que é que eu
não sou uma árvore?

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