Certa vez um crítico amigo meu (hoje ele está longe de Curitiba), com o qual geralmente não concordo, disse-me assim: "poeta é quem transforma as trevas em algo admirável, e não o contrário." Quase nunca entendo o que os críticos pretendem com suas máximas. De qualquer forma, parece-me que um poema insuperável como esse do Jorjão funciona como um nó bem dado nas entranhas de qualquer um. Um dia escrevi: quem volta do inferno traz o inferno. Quando canto-declama, Jorge é infernal como uma banda de rock da década de setenta. Quando escreve, ele me lembra o melhor Paul Verlaine, aquele de depois de ter sofrido agudamente com Rimbaud. E hoje é aniversário do Jorge, a rapaziada vai comemorar logo mais no bar Estava Escrito, rua Vicente Machado, 578, Batel. Vai ter show com um bando de maluco da pesada, a partir das 19:30, e segue até a polícia chegar, segundo informa a divulgação do evento. Aí vai o poema do cara.
..
meu anjo da guarda
me pegou cagando
.
meu flato fanho assobia
uma melodia gasosa
com suas flores amorfas.
e em sua epifania
(nem de ontem ou agora),
a gula viva de outrora
anuncia minha intestina
agonia infinita.
..
véspera de hecatombes
onde, entre os homens,
borbulho o que sinto
e invejoso me vingo
de seus horizontes.
o ar de suas alegrias, definho
sem jeito, como ou aonde,
solto mil bois divinos.
.
infesto a eternidade
com odor duvidoso
de tênue bondade,
mas cobiço as beldades
e os tesouros dos outros.
quando pensam que dôo
a lei da gravidade,
flutuo, explodo,
.
espalho meus vícios
por todos os poros
e se a alma expio,
relaxo com reforços.
se existe o difícil
(é disto que eu gosto),
desloco o impossível
por isto me borro.
.
a comédia divina
percorre minhas vísceras
em onírica soberba.
como reza a bíblia,
sem eira e nem beira,
da cósmica poeira chega
e fina o que se destina,
a merda em suas bigas
.
no cu do mundo,
na casa do orvalho,
o jardim das delícias, fundo
e afundo no ato falho,
alhos com bugalhos.
meu desejo confundo
ao todo confuso,
lúbrico no sanitário
.
esqueço onde estava
e pelo espaço errando,
caíram minhas máscaras
no vaso urrando
só, na ira, não podia nada,
isto foi quando
meu anjo da guarda
me pegou cagando.
..
meu anjo da guarda
me pegou cagando
.
meu flato fanho assobia
uma melodia gasosa
com suas flores amorfas.
e em sua epifania
(nem de ontem ou agora),
a gula viva de outrora
anuncia minha intestina
agonia infinita.
..
véspera de hecatombes
onde, entre os homens,
borbulho o que sinto
e invejoso me vingo
de seus horizontes.
o ar de suas alegrias, definho
sem jeito, como ou aonde,
solto mil bois divinos.
.
infesto a eternidade
com odor duvidoso
de tênue bondade,
mas cobiço as beldades
e os tesouros dos outros.
quando pensam que dôo
a lei da gravidade,
flutuo, explodo,
.
espalho meus vícios
por todos os poros
e se a alma expio,
relaxo com reforços.
se existe o difícil
(é disto que eu gosto),
desloco o impossível
por isto me borro.
.
a comédia divina
percorre minhas vísceras
em onírica soberba.
como reza a bíblia,
sem eira e nem beira,
da cósmica poeira chega
e fina o que se destina,
a merda em suas bigas
.
no cu do mundo,
na casa do orvalho,
o jardim das delícias, fundo
e afundo no ato falho,
alhos com bugalhos.
meu desejo confundo
ao todo confuso,
lúbrico no sanitário
.
esqueço onde estava
e pelo espaço errando,
caíram minhas máscaras
no vaso urrando
só, na ira, não podia nada,
isto foi quando
meu anjo da guarda
me pegou cagando.
Jorge Barbosa Filho
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