domingo, 31 de maio de 2009

pecinhas para uma tecnologia do afeto, parte 3

"Escrever e escrever. Não escrever apenas informações técnicas. Escrever com amor o mais burocrático dos e-mails. Escrever como quem manda um beijo. Escrever aos amigos considerando-os como tal. Escrever aos amigos sempre. Escrever as três palavras inevitáveis sinceramente. Escrever com honestidade, ainda que isso doa. Escrever. Isso é a tecnologia do afeto." Nina Rosa Sá.
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Na próxima segunda (01/06), o última dia da série de apresentações das Pecinhas para uma tecnologia do afeto. Eu, Nina Rosa Sá, Leo Fressato e Fábia Regina estaremos cena, com quatro dolorosos pequenos monólogos. No nosso aquífero quente, refúgio desse inverno dos espíritos, Wonka Bar (Trajano Reis, 326). Tudo começa às 21h, mas estaremos lá recebendo a todos desde as 19h. Veja também: www.teatroderuido.com.br. Republico o texto que fiz para Nina. Segue.
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Um sapo, um baiacu
Um- Posso pôr meu coração a seus pés.
Dois- Se não sujar meu chão.
Um- Meu coração é limpo.”
(Heiner Müller)
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É um figurino estranho. Ela parece, muito, vestida de si mesma. A máscara que usa é mais louca ainda, é como ela se mascarasse com o próprio rosto.
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Em algum momento do texto, ou durante o texto todo, fica a cargo da atriz, ela deve rezar. É uma reza inédita e inaudível. Física. É uma reza física. Mais se assemelha a uma dança a reza. A reza é assim: Chega de permitir que a memória ocupe o espaço do que dever ser a vida, chega de achar que a dor não vai passar, chega de achar que está sozinho, chega dessa vontade de rever, chega de saudade, chega de saudade, não tenha medo, aceite isso.
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não vou falar que tenho coração
não pra você
pois se aqui estou
é porque estou viva
e se estou viva
é porque tenho coração
e se tenho coração
ele é uma coisa que pulsa
um sapo ou um baiacu
um sapo ou um baiacu são
coisas que pulsam
é por isso que eles dois
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Há um sapo e um baiacu em cena
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são o coração a que me refiro
então, esse coração
ou esse
tanto faz
é um coração que pulsa
sim, pulsa
mas por aqui
a gente gosta de dizer
não que ele pulsa
mas que ele bate
então se bate
bate por quem?
bate por você que tanto venero?
vou dizer que te amo
que te venero
e daí se eu não devia fazer isso?
se te venero
deve ser por você que o meu
sapo, digo, coração bate
mas não
não é por você que o meu
baiacu, digo, coração bate
ele
ou ele
bate por mim
para me manter viva
ele
ou ele
bate para que eu possa continuar
a fazer declarações de veneração
feito essa
na qual você ainda sequer reparou
essa que é só pra você
pra você, pra você
que até o momento parece ignorar
que eu tenho um sapo
um baiacu
um coração em cena
um coração aos teus pés

4 comentários:

  1. Bonito, emocionante, de verdade.
    Grüsse.

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  2. Foi ótimo e eu acho que essa peça vai ter efeito em um monte de pessoas, que vão fazer as mais incríveis cagadas (tipo declarações indevidas de amor) de suas vidas.
    Quero ler o conto que fez as mulheres chorarem!

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  3. obrigado, maria (grüsse).
    sabrina, o conto é o arfo e prossigo, tá no inverno dentro dos tímpanos, veja lá. e obrigado por acreditar no poder amoroso das pecinhas.
    beijos. lepre.

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